Conselho Universitário concede emerência ao professor Serra

16 de março de 2022 | Notícias

João Batista de Abreu (1)

Demorou mas enfim aconteceu. O Conselho Universitário da UFF aprovou na manhã desta quarta-feira, dia 16 de março de 2022, a concessão do título de emérito ao professor Antonio Amaral Serra, diretor em duas gestões do Instituto de Arte e Comunicação Social. A proposta, aprovada pelos departamentos de Comunicação Social e Cinema e Vídeo e em seguida pelo Conselho de Unidade do IACS em 2018, levou mais de três anos para ser levada ao plenário do CUV por conta da pandemia.

A história do professor Serra se confunde com a saga de Instituto, criado em 1968 e durante muitos anos visto como o “Patinho Feio” da UFF, sobretudo durante a ditadura civil-militar, pela postura crítica e reativa aos padrões conservadores.

Antonio Serra, ex-militante estudantil, primeiro presidente do Caco Livre – o diretório acadêmico da Faculdade de Direito da então Universidade do Brasil, hoje UFRJ – viveu momentos difíceis como estudante e depois como professor da UFF nos anos 1970, chegando a ser afastado da Universidade por não apresentar documentos então exigidos pelo antigo DOPS, a polícia política do regime.

O que leva alguém a questionar certezas aparentes numa sociedade que cultiva cada vez mais verdades fugazes? O que faz uma pessoa passar boa parte da vida profissional tentando convencer estudantes de que aqueles conhecimentos transmitidos são essenciais a seu futuro? Um futuro permeado pela luta para ingressar no mercado de trabalho cada vez mais seletivo e o desejo de assimilar conceitos e ideias que ajudam a compreender as contradições do mundo contemporâneo. Enfim, o que significa tornar-se professor em uma universidade pública?

A trajetória acadêmica de Antonio Amaral Serra nos ajuda a responder a estes questionamentos. Formado em Direito e Filosofia pela antiga Universidade do Brasil,este carioca nascido e criado na Tijuca, ex-aluno do Ginásio São José, logo começou a se interessar por política e ingressou na Juventude Estudantil Católica (JUC), o movimento secundarista que fez história no início dos anos 60 no Rio de Janeiro. Mais tarde engaja-se na Ação Popular (AP).

O professor de Filosofia e Comunicação, amante da música e do cinema, morador de Icaraí, tem na informalidade e no trato carinhoso com os estudantes seu traço marcante de convívio fraterno. Assim como o discípulo Paulo de Tarso, também combateu o bom combate e hoje recebe o reconhecimento acadêmico dos colegas. “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Desde já me está reservada a coroa da justiça.”

Confesso meu orgulho de haver proposto a concessão do título de emergência ao professor Serra ainda no Departamento de Comunicação Social e haver redigido o documento encaminhado ao CUV, com mais de 80 depoimentos de ex-reitores, professores, servidores técnico-administrativos e ex-alunos formados no IACS ao longo de quase 40 anos. Serra representa um tipo de professor que transcende o tempo e se eterniza nos estudantes que ajudou a formar para a vida fora da academia.

É impressionante sua capacidade de aglutinar pessoas em torno de objetivos e metas. Um dos segredos do êxito – é possível afirmar – é a tolerância. Sim, a tolerância para saber ouvir diferentes vozes, ideias opostas. Aliás, a razão de ser da pesquisa universitária é a dúvida. Quanto mais certezas, menos pesquisa, menos produção de conhecimento. Serra mostrou que sabe bem dimensionar esta equação nos três departamentos pelos quais passou na UFF: Comunicação Social, Cinema e Vídeo e Filosofia. Aposentou-se aos 70 anos, na compulsória, mas o vínculo com a Universidade se eternizará com a concessão do título do professor emérito.

(1)   João Batista de Abreu. Professor titular (aposentado) do curso de Jornalismo da Universidade Federal Fluminense

Professor Antonio Serra no IACS

Professor Antonio Serra no IACS